Chamado de golpista, Roberto Freire diz que “teve que reagir” a escritor homenageado
Após o embate com Raduan Nassar na entrega do Prêmio Camões, o ministro da Cultura, Roberto Freire, afirmou à Folha de São Paulo que o governo “não poderia ficar calado” diante das críticas feitas pelo escritor brasileiro, que chamou a gestão peemedebista de “golpista” e “repressora”. “Quem fala o que quer ouve o que não quer”, disse Freire.
Segundo o ministro, a entrega da maior honraria da literatura em língua portuguesa a um “adversário político” é prova de que o governo Temer “não é ilegítimo”.
Freire afirmou ainda que as vaias que recebeu no evento vieram de “expressivos líderes do PT” que estavam na plateia, porém, não soube nomear nenhum deles. “Foi uma ação preparada e não só por um ou outro que participava do evento”, declarou.
Mas pegou mal para Freire. Em cerimônias anteriores do Prêmio Camões e em outras semelhantes, o costume é o homenageado fazer ao final o discurso de agradecimento.
Era esperado que o autor de “Lavoura Arcaica”, crítico notório do governo Temer, fizesse um discurso contundente. E foi o que ocorreu, quando Raduan falou, abrindo a cerimônia, em vez de fechando-a.
Isso permitiu que o ministro Roberto Freire tivesse a última palavra, com uma resposta dura a Raduan, que havia em sua fala acusado o governo de golpista.
O ministro sugeriu que o escritor não deveria aceitar o prêmio, no valor de €100 mil (cerca de R$ 330 mil). Freire nega que o ritual tenha sido invertido pelo Ministério da Cultura.
Roberto Freire tentou defender Temer. Mas sentiu a reação de quem vota. Ele devia respeitar o escritor que, de fato, merece respeito. Freire quis iludir as pessoas passando a ideia de que o premio havia sido concedido pelo presidente e não pelos méritos do premiado. Mas o tiro saiu pela culatra: recebeu merecidos apupos.