Denúncia, reivindicação e arte marcam a paralisação geral de mulheres no dia 8 de março
Haverá atos em Afogados, Tabira, Orocó e Santa Cruz da Baixa Verde
O Sertão conta com uma vasta agenda de atividades no Dia Internacional da Mulher. Em Afogados da Ingazeira, Santa Cruz da Baixa Verde e Tabira haverão atos públicos contra a PEC 287. A militante feminista e professora do Ensino Fundamental no Sertão do Pajeú, Uilma Queiroz ressalta que a região enfrenta uma longa estiagem eque os períodos de seca são cada vez mais regulares e constantes, o que dificulta ainda mais a sobrevivência das mulheres no campo.
“De que maneira as mulheres rurais e quilombolas, na região semiárida, como a do sertão do Pajeú, poderão contribuir com a previdência? Em nossa região, a produção agrícola é irregular devido aos períodos de estiagem. Desde 2010 enfrentamos a maior seca dos últimos 50 anos. Esse cenário que inviabiliza qualquer contribuição com a previdência, pois a produção mal garante o sustento da família”, questiona a militante.
A violência é outro aspecto alarmante no interior do Estado. A advogada Fátima Silva, denuncia a ausência de mecanismos e políticas públicas voltadas à proteção e ao acolhimento das mulheres agrestinas. “As redes de proteção têm sido desmontadas e, em diversos municípios, não existe Delegacia Especializada da Mulher. Um processo de interiorização destes mecanismos é necessário e urgente”, reivindica a advogada.
Municípios do Agreste também serão marcados por atos políticos no 8 de março. Em Caruaru, mulheres de toda a região se unirão contra a Reforma da Previdência. No Araripe, as mulheres estão organizadas para bloquear a principal rodovia federal pela manhã.
Outro ato tomará as ruas de Orobó, cuja concentração será na frente da sede do Sindicato Rural, às 7h, com produção de faixas e cartazes. Às 8h, as mulheres seguem em marcha pelas ruas em direção à quadra Paulo Freire. Em Passira, além de atividades preparatórias pela manhã, nas escolas públicas Bengalas e Erem, as feministas se dividem, saindo em caravana para participar dos atos no Recife e em Caruaru. Em Belo Jardim, as mulheres estão promovendo rodas de diálogos com outras mulheres das comunidades quilombolas e das periferias.
As feministas consideram importante conversar com estudantes e com as mulheres populares sobre como a PEC 287 coloca todas as trabalhadoras e os trabalhadores no mesmo contexto, sem observar as necessidades básicas de cada região e realidades nas quais as mulheres estão inseridas. Segunda a advogada e militante do Fórum de Mulheres do Agreste, Elisa Aníbal, a reforma da previdência vai estimular o êxodo rural, impactando assim de forma negativa a produção alimentar e na economia local, precarizando ainda mais os recursos das trabalhadoras rurais.
Ela recorda o que Simone de Beauvoir afirmava: “Basta uma crise política, econômica e religiosa para que o direito das mulheres sejam questionados.”
O movimento feminista da Mata Sul também considera importante fazer ações descentralizadas em municípios menores para promover o diálogo entre as mulheres. Além de rodas de conversa, panfletagem e seminários,a Mata Sul conta com um grupo de teatro feminista que, desde o começo de 2015, realiza esquetes e apresentações teatrais sensibilizando mulheres e homens sobre a violência contra a mulher e o racismo. O grupo participará do ato no Recife e já tem programada uma semana de intervenções teatrais de rua em Escada, Joaquim Nabuco, Palmares e Água Preta.