No país, olhares voltados para a eleição de São Paulo
A pesquisa Datafolha divulgada na última quinta-feira (22) com as intenções de voto para prefeito de São Paulo, a primeira após o registro oficial das candidaturas, está dando o que falar no país.
Ela mostrou o deputado federal Guilherme Boulos (PSOL) com 23%, o influenciador Pablo Marçal (PRTB) com 21%, e o prefeito Ricardo Nunes (MDB) com 19%, empatados tecnicamente.
A margem de erro da pesquisa é de três pontos percentuais para mais ou para menos.
Boulos se manteve estável, no mesmo patamar do levantamento do início de agosto, quando tinha 22%. Ele agora divide a liderança com Marçal, que cresceu de 14% para 21% nesse período, e com Nunes, que oscilou negativamente de 23% para 19%.
Depois, aparecem o apresentador José Luiz Datena (PSDB), que recuou de 14% para 10%, e a deputada Tabata Amaral (PSB), que oscilou de 7% para 8%, empatados tecnicamente.
O resultado mostra que o eleitor bolsonarista está se identificando mais com o discurso do coach Pablo Marçal do que do insosso prefeito Ricardo Nunes, apoiado por Jair Bolsonaro. A questão é que, por pior que seja, Nunes representa um risco menor para a maior cidade do Brasil que Marçal, conhecido pelo envolvimento com crimes, acusado de charlatanismo pelos opositores, que montou uma fortuna com seus questionáveis métodos de coach, tendo virado mais piada que levado a sério, mas com possibilidade de gerir uma das maiores economias da América Latina.
Bolsonaro age por ciúmes. Sabe que Ricardo Nunes não oferece risco para seu capital eleitoral. Por isso ignora e comprou uma briga com Marçal. Esse sim apresenta um risco enorme para seu espólio eleitoral.
Já Guilherme Boulos, disparadamente o mais preparado de todos, aparentemente não consegue romper a bolha dos rótulos impostos a ele. Por sua luta na defesa de moradia digna para os invisíveis, em uma cidade com milhares de imóveis, inclusive públicos, desocupados, enquanto tanta gente dorme na rua, é rotulado pejorativamente de invasor, comunista, “defensor de Maduro”, dentre outras idiotices. O discurso cola em parte da população menos esclarecida e também em setores da classe média e do empresariado alienado do país, muito mais pelo que podem perder do muito que tem, do que o resto da sociedade pode ganhar com projetos que busquem um mínimo de partilha e justiça social. Talvez para Boulos, melhor inclusive seria disputar com Marçal, pois se equivalem em rejeição. Se a intenção de votos do coach cresceu a 21%, sua rejeição também, pelo medo do que representaria uma figura como essa para a cidade: foi de 30% a 34%.
Última constatação, a prova de que nem todo bom comunicador pode ser um bom projeto para uma cidade. Pela desenvoltura pífia, falta de conhecimento e projetos para São Paulo, José Luiz Datena é a grande decepção da disputa.
Tabata Amaral ao contrário, ao menos tem contribuído em desmascarar o despreparo de Marçal e Nunes: mas é vítima da polarização, estacionando nos oito pontos percentuais. Tem preparo, faltam-lhe votos.