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No Cine São José, o bolso que guarda a alma da minha saudade

Publicado em Notícias por em 6 de julho de 2024

Por Magno Martins, jornalista

Minha última crônica da série revivendo Afogados da Ingazeira, minha pátria de nascença, escrevo hoje com a dor da saudade, com os olhos em lágrimas. Traz como cerne o Cine São José.

Que alegria encontrá-lo vivo, fazendo resplandecer no sorriso da garotada os truques e segredos da sétima arte!

Pisei no seu solo sagrado com meu filho Magno Filho e seu primo Guilherme, que lhe acolheu esses dias de férias por aqui com o seu irmão Antônio Neto. Uma das magias do cinema era o toque da cirene. Quando criança e adolescente, tocava três vezes. Era o aviso de que teríamos um bom filme naquela noite. Ainda continua tocando. Cada toque, uma lágrima de saudade.

Nele, assisti muitos filmes de Tarzan! Na história, Tarzan era filho de um casal de nobres ingleses. Logo após o assassinato de John e Alice Clayton por gorilas, na costa africana, o garoto ficou sozinho e foi encontrado por macacos. Ele acabou sendo criado pela macaca Kala e, já adulto, casou-se com Jane, com quem teve um filho.

Adorava a macaca Chita. Era uma gorila mal-humorada, e moleca que atuava como uma irmã adotiva para Tarzan e Jane, a mulher que salvou Tarzan da solidão na selva, onde vivia com gorilas e com eles aprendeu tropecias em árvores para se salvar.

Havia filmes de faroestes e séries. Adorava Rin Tin Tin. Apelidado Rinty por seu proprietário, era um cão bonito que aprendeu truques e podia saltar grandes alturas. Foi transformado em um cão de shows pelo produtor cinematográfico Charles Jones, que pagou a Duncan para filmar Rinty.

Conta a história que o primeiro Rin Tin Tin surgiu nas telas, assim, em 1922, em The Man From Hell’s River, no papel de um lobo.

O Cine São José também foi palco de muitas anarquias quando moleque. Nossa turma, de tão bagunceira, era vigiada e chegou a ser proibida de frequentar o cinema. Pulávamos sobre as cadeiras para quebrá-las. Enchíamos seu assento de chicletes.

Seu Helvécio, locatário do cinema, propriedade da Diocese, criou a sua lista de Schindler para nos perseguir e nos privar da telinha. E ainda fazia o fuxico aos pais.

Para minha geração, o Cine São José foi o grande centro cultural de Afogados da Ingazeira. Além de projetar filmes, era palco para os Domingos Alegres, com Waldecy Menezes, um programa de auditório transmitido pela Rádio Pajeú.

Waldecy era o nosso Silvio Santos que nos salvava do tédio nas tardes de domingo. O programa era super divertido e revelava talentos. A cantora Maria da Paz, a Paizinha, que Deus já chamou, foi uma delas. Garotinha, subia no palco e cantava feito um sabiá.

Que saudade desse tempo maravilhoso! Rubem Alves, meu cronista preferido, diz que saudade é a nossa alma dizendo para onde ela quer voltar. Diz também que saudade é o bolso onde a alma guarda aquilo que perdeu. Na saudade, descobrimos que pedaços de nós já ficaram para trás.

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