Sem querer desanimar: muita euforia, pouca vacina
O jornalismo quando feito com seriedade tem a missão de viver a alegria e euforia da sociedade, mas, mesmo quando sua missão afetar esse estado de espírito, ser franco, muito franco.
Esta terça foi o dia “E”, de esperança pelas primeiras doses da Coronavac chegando a vários rincões no Brasil. No Sertão, não foi diferente.
Se o Ministro Eduardo Pazzuelo reclamou com a enfermeira Mônica (“eram nada parecidos”) sendo vacinada diante dos holofotes em São Paulo, pra alegria de Dória, deve ter tido um treco hoje.
Em cada cidade, os prefeitos elegeram como primeiro grande ato a foto oficial ao lado dos escolhidos, primeiros vacinados contra a pandemia. Teve soco no ar, choro, vibração, sinais da esperança de um povo e nos cliques dos gestores.
Mas sejamos diretos e direitos: até agora, vivemos pinceladas de esperança em um cenário cinzento.
Isso porque à exceção das poucas doses distribuídas, as notícias do Planalto indicam uma fracassada negociação com a Índia, que deu um tapa de luvas à decisão do governo Bolsonaro de apoiar os EUA contra o desejo de quebrar a patente dos insumos para vacinas.
Além disso, não há nenhuma notícia que indique a chegada de mais vacinas em curto prazo mesmo do Instituto Butantã. A Astrazeneca não vem agora. A Fiocruz adiou a entrega das primeiras doses da vacina de Oxford…
Prova disso é que após a divulgação do número de doses por cada cidade, a notícia era sucedida de um “só isso?”. A euforia virava apreensão de quem está no meio da fila. A conta dos planos de vacinação não fecha porque depende do essencial: a chegada de muito mais doses do que o pequeno número desta terça.
O promotor Lúcio Luiz de Almeida Neto, que acompanhou a entrega de vacinas na região soltou uma nota apreensivo em um grupo de monitoramento da Covid na região…
“Pela análise da Promotoria, as doses enviadas inicialmente não serão suficientes nem para o primeiro grupo prioritário que são os profissionais da saúde (linha de frente), os idosos e os índios”.
Para ele, isso pode gerar um outro problema, que sucede essa esperança inicial, decorrente da frustração pela falta de doses…
“Paralelamente, temos que buscar manter as atividades funcionando, mas ampliar a ação fiscalizadora para garantir o cumprimento dos protocolos em todos os segmentos e também a quarentena obrigatória do que chegam de viagem (foco em São Paulo) e dos que fizeram exame e/ou estão já com resultado de COVID-19 positivo, enquanto não tiverem alta”, acrescentou.
Não há outra opção . A sociedade feliz pelas vacinas que não cobrem nem os grupos prioritários, devem cobrar prioridade para os milhões que tiveram uma pincelada de esperança neste dia. Os negacionistas, o presidente Bolsonaro, Pazuello e os ignorantes, não necessariamente nessa ordem, não se deram por vencidos…