O Blog e a História: prefeito oferece caixão e vestido de noiva
Em 6 de julho de 1998:
“Minha filha, saiu algum caixão hoje? “, pergunta o prefeito de Jaboatão dos Guararapes, Newton Carneiro (PPB) aos funcionários de uma funerária que mantém para fazer enterro de parentes de eleitores da periferia da cidade.
“Infelizmente não, seu Newton”, responde uma funcionária, demonstrando uma certa tristeza por não ter atendido a clientela que assegura, há 42 anos, mandatos para Carneiro.
O diálogo foi acompanhado pela Folha na tarde da última quinta-feira, quando o prefeito procurava mostrar as suas realizações no município, localizado na região metropolitana de Recife.
Folclórico, Newton Carneiro, de 73 anos, tem um estilo que lembra o modo de governar de Jânio Quadros, seu ídolo na política. Adora fazer “visitas surpresas” a obras e repartições e também transmite ordens por bilhetes aos auxiliares.
No comando do segundo maior município do Estado, com uma população de 529.966, o prefeito diz que o chamam até de “louco”, devido ao seu comportamento e a certas atitudes, como andar com os bolsos cheios de bolachas.
“Não tenho tempo para fazer uma refeição, então vou comendo as bolachas enquanto percorro a cidade todos os dias”, diz. “Meu gabinete é a rua.”
O prefeito patrocina uma média de 40 enterros por mês. Ele fornece o caixão e providencia uma pequena cerimônia para a família.
Carneiro se orgulha de fornecer caixões “envernizados” aos eleitores: “Não é por ser pobre que o cidadão tem de ser enterrado enrolado apenas em um pedaço de plástico, como acontece por aí”.
Graças a esse trabalho, o político de Jaboatão dos Guararapes foi deputado estadual dez vezes.
E não se dedica apenas à morte. Na mesma casa onde funciona a funerária, mantém um serviço de confecção de registros de nascimento e outro de empréstimo de vestidos de noiva para as eleitoras.
Segundo o prefeito, embora a prefeitura ajude, a “casa de caridade” é sustentada também com dinheiro do seu bolso.
Devido à elevada taxa de mortalidade infantil do Nordeste, a maioria dos caixões doados por Carneiro é para crianças ou “anjinhos”, como chamam na região.