O blog e a história: a primeira prisão de Lula
Em 1980, o ABC Paulista vivia uma grande agitação em meio à ditadura militar. As greves dos trabalhadores da região, que já duravam pelo menos 2 anos, deixavam o país em uma espécie de “pausa”, aguardando por uma resolução.
Ainda que estivesse respirando “por aparelhos”, o regime autoritário ainda permanecia como vigente, causando repressão, prisões políticas e ainda intervenção nos sindicatos.
Naquela época, o Brasil conheceu Lula — um torneiro mecânico de origem nordestina, que presidia o Sindicato dos Metalúrgicos de São Bernardo do Campo e Diadema, na Grande São Paulo. Exatamente por seu papel nas manifestações, foi preso sem mandado judicial no dia 19 de abril de 1980.
Os militares acreditavam que, com a prisão do líder sindicalista, as greves poderiam chegar ao seu fim. Não poderiam estar mais enganados.
“O que aconteceu quando eles me prenderam? Foi uma motivação a mais para a greve continuar”, disse Lula em seu relato para a Comissão da Verdade, posteriormente, em 2014. Além dele, mais 12 pessoas foram presas devido à relação com o movimento trabalhista — entre eles, os advogados Dalmo Dallari e José Carlos Dias.
Quando foram detidos, não se fazia ideia dos motivos do encarceramento, muito menos quando eles poderiam ser soltos. A greve por aumento salarial continuava. “As mulheres fizeram uma passeata muito bonita em São Bernardo do Campo, depois foi aquele primeiro de maio histórico, em que foi o Vinícius de Moraes, e a greve durou mais quase 30 dias”, relatou Lula.
Ele permaneceu no Departamento de Ordem Política e Social (Dops) por 31 dias, sob o argumento de que ele estava liderando o movimento dos metalúrgicos.
Ainda que tenha feito uma greve de fome durante seis dias, sua estadia na carceragem foi uma “prisão VIP”, nas palavras do próprio sindicalista. Ele foi liberado para acompanhar o enterro de sua mãe, pôde assistir a uma partida do Corinthians, seu time, e ainda fez uma assembleia com funcionários.
Eles foram sentenciados a penas entre dois e seis meses, condenados por “incitação à desobediência coletiva das leis”. Ainda assim, o Superior Tribunal Militar (STM) anulou o processo, fazendo com que todos detidos fossem liberados.