Cúpula do PSDB mantém apoio a Aécio e evita falar em expulsão da sigla
Para Executiva Nacional, veredito sobre candidatura cabe ao senador, réu no STF, e ao diretório de MG
Por Angela Boldrini e Thaiza Pauluze / Folha de São Paulo
Réu no Supremo Tribunal Federal, o senador Aécio Neves (MG) ainda conta com o apoio do PSDB, partido que presidiu até 2017.
Em enquete realizada pela Folha nesta semana, membros da Executiva do partido afirmaram não ver motivos para a expulsão do parlamentar e disseram que a decisão sobre uma eventual candidatura à reeleição cabe apenas a ele e ao diretório estadual mineiro.
A reportagem questionou os políticos sobre: 1) se o senador deveria ser expulso do partido; e 2) se Aécio, permanecendo na legenda, deveria desistir de sair candidato ou ser impedido de disputar o pleito pela cúpula tucana.
Dos 41 membros da Executiva Nacional contatados, 12 afirmaram que o senador não deve ser expulso da legenda ou impedido de se candidatar por ter virado réu. Na avaliação deles, o avanço do julgamento no STF não significa que Aécio seja culpado, e, portanto, deve-se esperar a decisão final da Corte.
Outros 23 não quiseram se posicionar sobre o assunto, mas a própria negativa embutia um aval ao senador.
“A executiva nacional não discutiu em nenhuma reunião sobre essa possibilidade”, afirmou o ex-presidente do partido Teotônio Vilela Filho.
“Se os partidos forem expulsar todo mundo aqui [na Câmara] que é réu, não sobra muita gente”, afirmou o líder do PSDB na Casa, Nilson Leitão (MS), para quem é necessário dar a Aécio a chance de se defender na Justiça.
Apenas o prefeito de Manaus (AM), Arthur Virgílio Neto, disse que Aécio deveria sair do partido. “Se o PSDB tivesse uma comissão de ética que funcionasse e não fosse uma reunião de compadres, eu acho que deveria, sim. Na verdade, ele deveria tomar a atitude de sair, mas não sendo o caso, a comissão de ética tinha que tomar essa atitude.”
Integrante da Executiva, Aécio não fez parte da pesquisa. Cinco dos membros não foram localizados pela reportagem.
O senador virou réu pela primeira vez no Supremo no dia 17 de abril, por causa do episódio em que foi gravado pedindo R$ 2 milhões ao empresário Joesley Batista, da JBS, em março de 2017. As acusações são de corrupção e obstrução de Justiça.
Sobre a decisão da candidatura, dentre os que responderam à pesquisa, a opinião preponderante é que o veredito não cabe à direção nacional, mas ao diretório mineiro e ao próprio senador.
“Ele conhece o estado e as dificuldades e cabe somente a ele decidir. Depois, terá que se justificar com o diretório do PSDB em Minas Gerais”, afirmou o líder tucano no Senado e vice-presidente do partido, Paulo Bauer (SC).
Dos 36 entrevistados, só três membros afirmaram que Aécio não deve ser candidato: Virgílio, que defende a expulsão e, portanto, que o senador não seja candidato a nada, e os deputados Geraldo Resende (MS) e Mara Gabrilli (SP), ambos suplentes na cúpula partidária.
Nos bastidores, a decisão de não se posicionar é vista como estratégica. Membros do alto comando da legenda afirmaram que a tendência é que Aécio desista de qualquer candidatura, mas temem que uma pressão partidária nesse sentido possa ter o efeito contrário sobre o senador.
Um tucano afirmou que a Executiva está “dando espaço” para que o congressista anuncie ele mesmo a desistência.
É essa ala que avalia que os pré-candidatos do partido à Presidência e ao governo de São Paulo, Geraldo Alckmin e João Doria, se precipitaram ao afirmar que o correligionário mineiro não deveria concorrer, apesar de concordarem com a avaliação de que Aécio pode afetar candidaturas do partido tucano.
“É claro que o ideal é que ele não seja candidato, é evidente”, afirmou Alckmin em entrevista à rádio Bandeirantes.
Apesar da possibilidade de as acusações contra o presidenciável de 2014 respingarem na campanha do ex-governador de São Paulo —que já vem enfrentando baixos índices de intenção de votos nas pesquisas do Datafolha—, correligionários avaliam que o principal problema estaria no palanque de Minas Gerais, onde o senador Antonio Anastasia deve concorrer ao governo do estado.
Após a declaração dos paulistas, Aécio reagiu, afirmando que a decisão será tomada pelos mineiros. Ele já afirmou que ainda não decidiu se concorrerá à eleição e, em caso afirmativo, a qual cargo. “É uma decisão coletiva que vamos tomar no momento certo em função do quadro eleitoral de Minas Gerais.”
Alckmin, que é o atual presidente do PSDB, e Doria não responderam à pesquisa da Folha. A executiva, que segundo listagem do site da sigla possui 42 membros, é formada por senadores, deputados federais, ex-presidentes do partido e lideranças de grupos como o Tucanafro, movimento negro tucano, e da juventude do partido.
23 integrantes da cúpula do PSDB não quiseram responder
- Geraldo Alckmin – Presidente do PSDB e ex-governador (SP)
- Fernando Henrique Cardoso – Presidente de Honra do PSDB e ex-presidente da República
- Marconi Perillo – 1º Vice-presidente do PSDB e ex-governador de Goiás
- Flexa Ribeiro – Vice-presidente do PSDB e senador (PA)
- Beto Richa – Vice-presidente do PSDB e ex-governador (PR)
- Shéridan – Vice-presidente do PSDB e deputada federal (RR)
- Aloysio Nunes – Vice-presidente do PSDB e ministro das Relações Exteriores
- Marcus Pestana – Secretário-Geral do PSDB e deputado federal (MG)
- Eduardo Cury – 1º Secretário do PSDB e deputado federal (SP)
- Terezinha Nunes – 2ª Secretária do PSDB e deputada estadual (PE)
- Silvio Torres – Tesoureiro do PSDB e deputado federal (SP)
- Cássio Cunha Lima – Senador (PB)
- Nelson Marchezan – Prefeito de Porto Alegre
- Rogério Marinho – Deputado federal (RN)
- João Doria – Ex-prefeito de São Paulo
- Pedro Taques – Governador do Mato Grosso
- Thelma de Oliveira – Suplente e prefeita de Chapada dos Guimarães (MT)
- Yeda Crusius – Presidente do PSDB Mulher e deputada federal (RS)
- Marcos Saraiva – Presidente da Juventude do PSDB
- Juvenal Araújo – Presidente do Tucanafro
- Tasso Jereissati – Ex-presidente do PSDB e senador (CE)
- José Aníbal – Ex-presidente do PSDB
- José Serra – Ex-presidente do PSDB e senador (SP)
5 não foram localizados
- Giuseppe Vecci, deputado federal (GO)
- Bruno Araújo, deputado federal (PE)
- Miyuki Hyashida, suplente e ex-prefeita de Brejinho de Nazaré (TO)
- Pimenta da Veiga, ex-presidente do PSDB e ex-prefeito de Belo Horizonte
- Eduardo Azeredo, ex-presidente do PSDB e ex-governador de Minas Gerais