Bolsonarismo volta a atacar quem fez jornalismo no caso Trump
A estratégia do Bolsonarismo em tentar desacreditar a imprensa brasileira teve mais um capítulo na noite passada, na cobertura do atentado sofrido pelo ex-presidente e candidato republicano Donald Trump.
Durante as horas que sucederam o evento, passaram a atacar a imprensa brasileira por conta da divulgação das primeiras informações sobre o caso, printando e congelando o momento em que as informações eram mínimas e desencontradas.
A primeira notícia divulgada não trazia evidências ou atestavam o que de fato ocorrera, pois sequer a investigação americana ainda tinha respostas. Daí as informações sobre “sons de disparos”, “parece ter se ferido”, “provavelmente ferido na orelha”. À medida que as informações chegavam, como num quebra cabeças ou na montagem de uma colcha de retalhos chamada notícia, os fatos foram sendo atualizados, até a confirmação de que tratava-se de um atentado, com o presidente ferido na orelha, um espectador e o atirador de 20 anos, morto.
A própria imprensa americana trouxe informações desencontradas até a primeira hora do ocorrido. O primeiro a noticiar que teria sido um ato de um “lobo solitário” foi o Washington Post. Nem New York Times, CNN ou outro veículo americano havia, assim como aqui, noticiado os detalhes. Os dados iniciais do atirador, Thomas Matthew Crooks, de 20 anos, só começaram a ser revelados seis horas depois do incidente.
Para descredibilizar o jornalismo profissional, que tem métodos, regras e uma liturgia temporal na apuração dos fatos, bolsonaristas e extremistas da direita queriam que minutos depois, a imprensa assumisse sem elementos oficiais ou de apuração que Trump foi vítima da esquerda, que o episódio é um complô mundial para eliminar direitistas, que eles sempre tiveram razão. E não adianta argumentar em contrário. Esse tipo de discurso, aí sim, tem método, estratégia, origem e destinatário: o fanatismo político em que se tornou parte do bolsonarismo nesse país.
Da mesma forma, é certo afirmar que não tem amparo na realidade a tentativa de setores da extrema esquerda de comparar o episódio de Trump ao da facada de Adélio em Bolsonaro, inclusive querendo descredenciar as duas situações. Bolsonaro foi sim esfaqueado, como Trump, alvo de uma fracassada tentativa de homicídio. O resto é do mesmo fanatismo que permeia o outro lado do debate.
Em meio a tudo isso, a constatação da importância do jornalismo profissional, de sua correta atuação e definição para retratar a história, inclusive com o direito a opinar sobre os fatos, dando à sociedade o livre arbítrio para formar sua opinião. É isso que incomoda alguns setores: o jornalismo já salvou o país algumas vezes em seus maiores dilemas e encruzilhadas. É um poder moderador que também empodera. E isso, incomoda muita gente.