Que tristeza, 2023…
O ano de 2023, no conjunto da obra, foi um dos piores da história, se não o pior, considerando o que entrega de desafios para 2024. Da minha geração, o pior, com certeza.
Não dá pra entrar em 2024 sem pensar no sofrimento das famílias palestinas, arrasadas, dizimadas pelo poder opressor de Israel. Eu não consigo fechar os olhos sem pensar na imagem de crianças amontoadas nos hospitais que ainda restam.
Elas também são alvo pela ótica perversa de que no futuro, pela dor sofrem perdendo pais, mães, irmãozinhos, vão nutrir ódio por Israel. Benjamin Netanyahu age sobre a ótica de que, se um cacho de uvas está estragado, que se dizime toda videira. Matar inocentes não deveria ser resposta para os terroristas do Hamas, que resistirá mesmo após o genocídio.
E olha que esquecemos haver outras guerras com o mesmo potencial de auto destruição humana, como na Ucrânia, na Síria, no Iêmen, em parte da África. Não há nada que os faça parar.
Este foi o ano em que as mudanças climáticas transformaram o tempo. Tanto o tempo verbal quanto o meteorológico. Em 2023, elas deixaram de ser futuro e se tornaram presente.
Este foi um ano de eventos extremos, agravados por um El Niño intenso, que levou o clima do planeta ao que a Organização Meteorológica Mundial (OMM) chamou, em julho, de mergulho em “território desconhecido”.
Um território que se revelou repleto de ondas de calor, tempestades, inundações, incêndios, secas, nevascas, ciclones, furacões e tornados. O ano termina com as maiores anomalias e sucessão de extremos climáticos já testemunhadas pela Humanidade. E, segundo a OMM, é só o primeiro ano de uma nova era de extremos das mudanças climáticas.
A média da temperatura global deve ficar 1,4ºC acima da do período pré-industrial. É a maior elevação desde o início dos registros, em 1850. E 2023 veio na esteira de nove anos seguidos de tendência de elevação.
Aqui, mais da metade dos 5.568 municípios brasileiros foi afetada por fenômenos extremos em 2023. Cerca de 2.797 cidades decretaram estado de emergência ou calamidade por causa de desastres naturais. Vimos regiões do estado do Amazonas registrarem neste ano os menores índices de chuva, no período de julho a setembro, dos últimos 40 anos.
No Sul, alagamentos e mortes. Aqui no Nordeste, nem a nós nativos, havia sido imposto tamanho calor.
Pior é a nossa incapacidade de buscar reverter a curva do caos. Pelo contrário, líderes mundiais alimentam mais guerras, mais eventos climáticos adversos, mais dor.
No Brasil, a intolerância de parte da sociedade nos faz indagar o que de fato houve com os reais valores que deveriam nos regir no caminho da fraternidade e solidariedade. Um pedaço de nossa comunidade julgou e condenou vítimas sociais. Adoraram a Bolsonaro. Condenaram padre Júlio Lancelotti.
Se vale o registro, o Deus que acredito me estimula a não perder o direito de acreditar, esperançar, resistir. Depois da escuridão, a luz sempre renasce.
Feliz Ano Novo!