Os pastores do ódio
Por André Luis
Eles se autointitulam de “povo de Deus”, mas o que saem de suas bocas não condiz com o nome que querem carregar. Se dizem cristãos, mas suas ideias e comportamentos são iguais aos dos Fariseus que perseguiram, armaram e mataram Jesus.
Com os corações cheios de ódio e rancor e dotados do poder da comunicação, são seguidos e adorados por milhares de pessoas que os escutam e estão prontos para colocar em prática os seus ensinamentos, que dizem eles serem “a vontade de Deus”.
Na semana passada repercutiu nas redes sociais um vídeo de um “pastor” chamado Anderson Silva que entrevista para o seu podcast o deputado federal Nikolas Ferreira. Num trecho do vídeo que ganhou as redes sociais, Anderson sugere que os evangélicos orem para que Deus quebre a mandíbula do presidente Lula (PT) e leve enfermidades para os ministros do STF.
“A igreja diz ‘tô orando’, mas talvez a gente não tá orando na fé, na intensidade na fé. O guerreiro é Deus. Salmos 2 diz que o senhor tá rindo, porque ele é capaz de destruir o imperador da terra”. Faltam essas orações imprecatórias dos salmistas, Senhor mata meus inimigos, quebra os dentes dos meus inimigos, Senhor arrebenta a mandíbula do Lula. Senhor, prostra enfermos os ministros do STF, para que eles te conheçam no leito da enfermidade”, esbraveja o “pastor”, enquanto Nikolas Ferreira, o entrevistado, apenas ri.
Aliás, para um jovem de 27 anos, Nikolas Ferreira é uma figura emblemática. Tão jovem e tão odiento. Puro representante da lavagem cerebral e do ódio que é pregado diariamente nestes círculos pseudo cristãos que se espalham com uma praga devorando mentes e corações por todo o mundo.
O episódio do vídeo citado acima é mais um caso de religiosos fundamentalistas que sequestram a fé cristã para pregar o ódio e incitar a violência, algo que tem se tornado comum nos púlpitos de igrejas evangélicas no Brasil.
No início do mês de maio o “pastor” André Valadão, fez um culto na Igreja Lagoinha (a mesma denominação a qual pertence um “pastor” preso esses dias acusado de estuprar menores) em Orlando, em que condenou a palavra “orgulho”.
No palco da igreja, o líder religioso falou sobre o movimento LGBTQIAP+ e, atrás dele, a frase “Deus odeia o orgulho” ditou o tom do discurso.
“Deus odeia o orgulho. Deus não tolera. Uma das palavras mais difíceis para Deus é orgulho. Deus odeia, ele repugna, qualquer atitude de orgulho. Só o uso da palavra orgulho Deus já abomina”, disse Valadão, ovacionado pelos fiéis da igreja logo após proferir as palavras. O pastor ainda alegou que “qualquer movimento que carrega o termo orgulho, Deus abomina”.
“A figura do orgulho é Lúcifer. A figura da palavra orgulho é o anjo caído, é alguém que, debaixo dos seus atributos, dons e possibilidades, quis se igualar a Deus”, zurrou Valadão.
Valadão deve ter se inspirado em outro discurso de ódio protagonizado por um “pastor” americano chamado David Eldridge. Essa figura, “pastor” da Igreja Batista Memorial de Dawson, que fica em Birmingham, no Estado americano de Alabama fez uma pregação carregada de ódio contra a comunidade LGBTQIAP+ em fevereiro durante um congresso da União das Mocidades das Assembleias de Deus de Brasília.
Em uma cena lamentável e com tradução simultânea, Eldridge, andando de um lado para o outro do palco ofegante e sendo seguido por seu tradutor (a cena lembrou até um dos episódios de ET e Rodolfo. Um quadro televisivo. Os mais antigos irão se lembrar ao ver a foto do “pastor” e do tradutor), o “pastor” despejou tanto ódio e preconceito a cada passo, que daria para encher uma fossa séptica em poucos minutos. Uma verdadeira barbárie.
Com o advento da internet e as facilidades da comunicação e a ajuda dos algoritmos que criam bolhas, essa gente tem tomado cada vez mais espaço nas vidas das pessoas. Usando o verniz da religiosidade, usam a Bíblia – como diz Padre Luizinho – como receita de bolo. Aquilo os agradam e faz sentido ao viés de confirmação, eles usam, e o restante é descartado.
Pessoas como Edir Macedo, Silas Malafaia, Waldomiro Santiago, André Valadão, Anderson Silva e muitos outros, tem voz, e infelizmente tem um público ávido, que deliram e salivam a cada zurro que sai das bocas destes pastores do ódio.
Esses dias vi um vídeo do Padre Fábio de Melo que resume bem o que tem acontecido: “É bem provável que hoje, Jesus seria altamente reprovado por muitos que se dizem cristãos. Protegidos por um moralismo que advêm de suas experiências pessoais, feridas emocionais não curadas, tendo a necessidade de um rigor extremo que atribuem as exigências divinas, muitos cristãos ainda não entenderam que uma das causas da morte de Jesus foi justamente combater o rigorismo religioso que oprimia por um lado e favorecia a hipocrisia de outro”.
Deus é amor!