O blog e a história: o nó que Eduardo, morto, deu em Armando
Na política, o imponderável pode determinar os rumos de uma eleição.
Em 2014, Armando Monteiro liderava a maioria dos levantamentos contra o candidato de Eduardo Campos, Paulo Câmara, até a morte do presidenciável naquele agosto fatídico.
A tragédia que levou Eduardo deu um nó na campanha de Armando. Eles sabiam que o voto emocional, da gratidão a Eduardo, teria um efeito imediato na campanha de Paulo Câmara. De candidato relativamente pesado pela dificuldade de discurso e desconhecimento, a morte de Eduardo praticamente o elegeu.
E a campanha de Armando? Ficou perdida. Em 21 de agosto de 2014, o blog noticiou que, apesar de o Tribunal Regional Eleitoral de Pernambuco ter barrado, a pedido da família, a utilização da imagem do ex-presidenciável Eduardo Campos (PSB) pela oposição durante o horário eleitoral gratuito, o candidato da coligação “Pernambuco vai mais longe”, Armando Monteiro Neto (PTB), dedicou todo o tempo disponível na TV para enaltecer o seu ex-aliado e ex-adversário.
Ele prometeu dar continuidade ao legado do socialista, que foi governador por duas gestões seguidas. Armando foi eleito com a ajuda de Campos em 2010 para o Senado, mas afastou-se do PSB para disputar a sucessão estadual em Pernambuco, contando com o apoio da presidente Dilma Rousseff e do ex-presidente Luiz Inácio Lula da Silva.
“Há de se buscar, agora, no momento em que compartilhamos essa perda, a inspiração para aqueles que continuarão a militar na vida pública, dar continuidade à obra de Eduardo”, disse o petebista, que acrescentou:
“É missão que não estava prevista dessa maneira. Sua ausência representa mais um desafio que se impõe não apenas a mim, mas seguramente a todos os candidatos que pleiteiam governar Pernambuco”.
Por fim, ele concluiu: “Esta certamente será a melhor forma de reverenciar um homem, um líder, um grande governador e um amigo dos pernambucanos”, prometeu Monteiro Neto, em sua estreia no programa eleitoral.
Por pedido da viúva Renata Campos, o PSB entrou na segunda-feira com solicitação no TRE para que fosse impedida a veiculação de “imagem” ou “som” relacionados a Eduardo nas campanhas dos adversários.
Na segunda-feira à noite, o desembargador eleitoral José Ivo de Paula Guimarães negou a ação cautelar justificando que o artigo 53 da Lei das Eleições veta censura prévia aos programas eleitorais. De posse da liminar a seu favor, o petebista preparou o primeiro programa para homenagear Eduardo Campos, de quem se afastou por “divergências ocasionais, naturais da política”.
Na manhã daquela quarta-feira, entretanto, o desembargador Alexandre Hermes Renato, do TRE, acatou o pedido da família, que recorreu da decisão anterior, dessa por meio de mandado de segurança. Ao saber da decisão, o petebista, que estava em caminhada pelas ruas do Recife, afirmou que a imagem de um governador “é pública”. De acordo com a sua assessoria, o programa já estava pronto, e não havia mais como mudar. Seu advogado, Walder Abra, recorreu da decisão para impedir o que considera “censura prévia”.
Para que se tenha ideia do impacto eleitoral da morte de Eduardo, a pesquisa mais recente sobre eleição em Pernambuco apontava Armando Monteiro com 47% de intenções de votos contra 13% de Paulo .
Na mesma data, o programa de Paulo Câmara mostrou imagens do velório e sepultamento do socialista, “seu amigo”. A atriz Hermila Guedes apelou: “Não devemos desistir do sonho pelo qual lutamos”. Ela lembrou que Pernambuco perdeu “um grande homem”. Eduardo sem estar nesse plano virou o jogo e venceu Armando, que não mais se achou naquela disputa.