Quem paga, não manda: o rádio não é palanque de governo
Foto: ilustrativa/Freepik
Por André Luis – Jornalista do blog
A notícia da Coluna do Domingão do blog deste domingo (3) é preocupante e merece toda a atenção de quem defende a liberdade de imprensa. Em pleno 2025, episódios de intimidação e assédio a rádios e jornalistas continuam se multiplicando em Pernambuco, especialmente no interior, onde o rádio ainda exerce papel central como elo entre o poder público e a sociedade.
Segundo a coluna, há gestores exigindo, de forma explícita ou velada, uma linha editorial “alinhada” com os interesses de seus governos, como se a publicidade institucional fosse autorização para interferência no conteúdo jornalístico. Trata-se de um grave equívoco — ou, pior, de uma prática autoritária que fere diretamente o princípio da liberdade de expressão. Publicidade pública não é moeda de troca. Não autoriza silenciar críticas ou transformar veículos em extensão da assessoria de governo.
O caso mais simbólico relatado foi o do prefeito de Caruaru, Rodrigo Pinheiro, que, por discordar da linha editorial da Cidade FM, decidiu excluir a emissora do espaço reservado à cobertura da imprensa. Um gesto claro de retaliação, prontamente repudiado pela ASSERPE. É o tipo de atitude que revela o desprezo de certos gestores pela democracia e pela independência da imprensa — valores que deveriam ser inegociáveis.
Diante da recorrência desses casos, a ASSERPE pretende lançar uma plataforma para registrar oficialmente denúncias de assédio, censura e violações à liberdade editorial no Estado. A iniciativa, inspirada no relatório da ABERT, é fundamental para mapear e dar visibilidade a esse tipo de ataque que, muitas vezes, acontece longe dos grandes centros e do escrutínio público.
Não se trata de defender uma imprensa imune a críticas — muito pelo contrário. O debate público exige responsabilidade, equilíbrio e pluralidade. O que não se pode aceitar é que veículos sejam punidos por cumprir sua função jornalística, especialmente quando isso se dá por meio de perseguição institucional.
O rádio não pertence a governos, nem deve ser usado como palanque de quem está no poder. Ele pertence ao povo. E cabe à sociedade, às entidades representativas e aos próprios profissionais da comunicação defender esse espaço de autonomia, que é condição básica para a democracia florescer. É hora de dar um basta à lógica do “quem paga, manda”. Informação livre é direito, não concessão.















