O emocionado discurso de Aline para a vó Laura
O governador Eduardo Campos (PSB) inaugurou no último sábado com o prefeito José Patriota em Afogados da Ingazeira um conjunto residencial com 275 unidades com o nome de Dona Laura Ramos Brito, matriarca da família Mariano.
Em nome da família Mariano, a vereadora Aline Mariano, da bancada do PSDB na Câmara do Recife, fez o seguinte pronunciamento, emocionando o governador e muita gente presente à cerimônia. Veja abaixo o discurso de Aline:
‘Senhor governador,
Minha avó Laura, cuja memória se perpetua hoje nesta bela e justa homenagem, com o batismo do seu nome neste conjunto residencial, foi um diamante lapidado por Deus, um anjo na sua imensa bondade, a joia mais preciosa da nossa família.
Uma mulher de traços fortes, característica marcante dos sertanejos, extremamente ligada as suas raízes. Altiva, destemida e batalhadora.
Não tinha papas na língua, era uma mulher verdadeira e sincera.
Mas tinha, acima de tudo, uma capacidade de amar invejável, revelada em cada abraço dado e também, nos momentos mais difíceis, em cada lágrima derramada.
Mário Quintana, poeta e escritor que escreveu tanto sobre a vida, disse que a arte de viver é simplesmente a arte de conviver. Ninguém assimilou tão bem esse ensinamento quanto ela.
Minha saudosa avó nasceu e viveu na zona rural até os 32 anos de idade. Tinha tino comercial invejável, tendo influenciado fortemente o seu companheiro José Mariano, que vivia da venda de seus produtos na zona rural, a expandir para a cidade, revelando-se mais tarde próspero comerciante de estivas nesta região.
Mas mesmo vivendo em condições tão adversas, numa época em que o Sertão era um grande isolamento das civilizações, rompeu fronteiras, combateu o bom combate.
Corajosa, obstinada e com visão de quem estava à frente do seu tempo, minha avó foi devotada à família. Com o meu avô José Mariano, que ainda está entre nós, constituiu uma grande família.
Foram 13 filhos, 31 netos, 34 bisnetos. Todos os filhos de partos normais, a maioria deles numa casa de alpendre no sítio São João de gratas lembranças, uns sob a luz do candeeiro, outros no esplendor da luz da lua.
Sertaneja apegada às suas raízes, valorizou a cultura popular, gostava de forró, vaquejada e cantorias. E em celebração a isso, adorava reunir em sua casa familiares e amigos, promovendo grandes festas.
Alfabetizada já tarde na vida, pelas próprias dificuldades do seu tempo e do seu mundo adverso, minha avó Laura deu aos filhos a oportunidade que nunca não teve em vida: o conhecimento das letras.
Parece ter seguido, já naquele tempo, o preceito de Nelson Mandela, o grande líder revolucionário sul-africano, que dizia que a educação é a arma mais poderosa que se pode usar para mudar o mundo.
Se o seu avô, o saudoso governador Miguel Arraes, por tudo que representou, pelo legado que deixou, foi à página mais linda que o destino escreveu em sua vida, para nossa família minha avó Laura foi uma guerreira que transformou sonhos em realidade.
Amor, sinceridade, solidariedade e trabalho gravarão seu nome na História. Guardo da minha avó e madrinha boas recordações no convívio com ela, memoráveis ensinamentos e lições.
Talvez tenha herdado dela, como o meu pai Antônio Mariano, seu filho primogênito, o gosto pela vida pública, à vocação para o mundo incompreensível, mas desafiante, da política.
De temperamento suave, mas duro nas horas necessárias, minha avó Laura tinha a sensibilidade do olhar para o próximo.
Embora não tenha exercido cargos públicos, seu estilo, seu modo de enxergar o mundo, de tratar as pessoas, levaram alguns dos seus herdeiros a abraçar o sacerdócio da vida pública.
Primeiro a ingressar na política, meu pai foi eleito vereador em nossa terra com apenas 24 anos, chegando aos 28 anos a ser prefeito do município. E mais adiante deputado estadual por quatro legislaturas.
Heleno, seu quinto filho, foi eleito vereador em 1988 e seu genro José Ulisses eleito vice-prefeito em 2000.
Como representante da segunda geração, fui eleita vereadora em Afogados da Ingazeira e em seguida eleita e reeleita vereadora da Cidade do Recife. E Igor Luiz, vereador eleito neste município, nas eleições passadas.
Não teria como expressar de outra forma nossa gratidão aos responsáveis por esta homenagem, se não revelando a nossa admiração por essa mulher que tanto amamos.
Mãe, avó tão guerreira, valente, virtuosa. Aquela que mesmo depois dos nossos erros, das nossas falhas, continuava nos amando do mesmo jeito.
Como neta, ela me abrigou, botou de castigo, me fez até chorar às vezes.
Minha avó Laura, saiba que a senhora foi à mulher que nos amou, educou e que nós nunca esqueceremos os seus ensinamentos, as suas lições de vida.
São vinte anos de saudade. Mas parece que o tempo não passou, porque ainda te vejo à minha frente abraçando, perdoando, manifestando o seu amor pelo próximo, como uma grande protetora e defensora da gente sofrida do Sertão.
Muito obrigada pelo amor, dedicação e a devoção à nossa família e a sua gente sertaneja. Te amamos muito e este amor e gratidão serão eternos e guardados na nossa lembrança para sempre.
Governador,
Perdão pela emoção, que contamina a todos nós neste momento. Para encerrar, escolhi este belíssimo poema de Carlos Drummond de Andrade sobre mãe, para homenagear esta mãe guerreira do meu pai:
“Por que Deus permite
Que as mães vão-se embora?
Mãe não tem limite,
É tempo sem hora,
Luz que não apaga
Quando sopra o vento
E chuva desaba,
Veludo escondido
Na pele enrugada,
Água pura, ar puro,
Puro pensamento.
Morrer acontece
Com o que é breve e passa
Sem deixar vestígio.
Mãe, na sua graça,
É eternidade.
Por que Deus se lembra
– mistério profundo –
De tirá-la um dia?
Fosse eu Rei do Mundo,
Baixava uma lei:
Mãe não morre nunca,
Mãe ficará sempre
Junto de seu filho
E ele, velho embora,
Será pequenino
Feito grão de milho.
Muito obrigada.