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O adeus ao meu sogro

Publicado em Notícias por em 20 de agosto de 2018

Por Magno Martins*

Perdi não apenas um sogro atencioso, carinhoso, de roupagem humanística, matuto apegado aos seus encantos, desde uma viola para traduzir a vida em versos a uma vaquejada. Se não derrubava o boi, apreciava a arte e patrocinava os troféus.

Sua grande paixão era trovejar. Poeta e contador de causos dos bons, Antônio Mariano era um político completo, tinha o cheiro e a alma de povo. Palacetes não agradavam sua índole. Preferia viver distante, tinha ojeriza ao entorno festivo do poder.

Viveu intensamente. Boêmio de bater o ponto todos os fins de semana, o conheci no apogeu da sua carreira, chegando quatro vezes ao parlamento estadual. Brigamos por longo anos que a política dos dois lados do interior foi capaz. Mas não eram empates bisonhos, mas gigantescos, tendo começado no jornalismo e depois descambando para o campo pessoal. Até que um dia – e a vida dá muitas voltas – taquei um beijo em Aline, dançamos uma noite inteira e com o tempo viramos a protagonista de uma versão tupiniquim de Romeu e Julieta.

Antônio quase desmaia ao saber que sua filha xodó havia lhe traído no campo amoroso. Não ache exagero, mas aquele que viria o ser um sogrão literal passou seis meses sem dar um bom dia à filha. Se sentiu golpeado.

Mas logo conquistei o coração do Velho poeta, mais generoso e amplo do que poderia imaginar. E criamos uma relação de pai e filho. Antônio deixou a política no último mandato no meio do qual fez uma grande festa para celebrar nosso casamento.

Deus chamou um homem que, apesar de encerrado seus mandatos há mais de dez anos, continuava agarrado ao exercício da política partidária. Adorava buscar o voto. Sabido, inventou certa vez para uns índios do Moxotó que sabia ler mãos. E levou todos no papo, resultando em votos nas urnas.

Político não muito chegado aos modismos, Antônio Mariano não inventou a roda para ser vereador, prefeito de Afogados e deputado por quatro legislaturas. A vocação selou o casamento do chamado político bom de voto, sagaz, convivente, e com grandes serviços prestados na área social, principalmente.

Seu xodó se revelou, por sua vez, uma herdeira política magnânima, com carreira brilhante na capital, onde exerce seu terceiro mandato.

Eu sempre digo que Aline Mariano é uma Antônio de saias. Nunca vi tão parecidos. Em tudo: no temperamento, na sensibilidade, no jeito de buscar o voto, enfim, até no jeito maroto e manhoso, como é a política no Brasil.

*Casado com Aline Mariano, com quem teve dois filhos, Magno Martins é jornalista.  

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