Lyra e a arte de governar como oposição à União
A presidente Dilma Rousseff (PT) vai atrair os holofotes nesta segunda-feira (14), quando estiver em solo Pernambuco, no mesmo dia em que o ex-governador Eduardo Campos (PSB) vai lançar sua pré-candidatura ao Palácio do Planalto. Mas os olhares também estarão voltados para o governador João Lyra Neto (PSB), cujo posicionamento político ainda é uma incógnita.
Na primeira semana de governo, João Lyra se comprometeu em defender Eduardo e igualmente preservar as relações institucionais com a União. Mas aliados e adversários estão na expectativa quanto ao futuro. O novo governador quer imprimir sua marca com autonomia, mas alguns apostam que ele não terá tempo, considerando as limitações administrativas que se iniciam a partir de junho em virtude das eleições.
O ponteiro do relógio vai girar acelerado. Além de precisar equilibrar a ligação com Eduardo Campos, que optou pelo ex-secretário Paulo Câmara para disputar o governo pelo PSB, Lyra gera expectativa na relação com Dilma. Ele reconheceu o papel da gestão da presidente no desenvolvimento econômico do estado durante a posse do secretariado na última segunda-feira, gerando surpresa entre os presentes, tão acostumados a ouvir, nos últimos meses, declarações recheadas de críticas à petista.
No entanto, na última quinta-feira, o governador fez cobranças duras ao governo federal, seja pedindo celeridade às obras da transposição do Rio São Francisco ou cobrando a Dilma a não discriminação ao estado durante o período eleitoral.
Atitude semelhante Lyra teve durante sua posse, no dia 4 de abril. Ao mesmo tempo em que usou verbos como “criar”, “formatar”, “inovar” e “iniciar”, comprometeu-se em preservar a história existente entre os Lyra e os Arraes desde 1959, quando seu pai e o avô de Eduardo Campos, Miguel Arraes, formaram duas frentes populares no estado, uma no Recife, outra em Caruaru.
É por essas e outras razões que será difícil bater o martelo em tão pouco tempo. Aliados e adversários acreditam que será um mérito para o governador tocar a gestão nesse ritmo, tentando a neutralidade de um juiz, respeitando os adversários e defendendo o direito de ser respeitado como oposição ao PT.
Mas tem sido comum ouvir entre as lideranças políticas que o novo governador tem um perfil mais aberto ao diálogo com os petistas que Eduardo. “A expectativa é de que isso seja uma marca sua”, declarou o deputado Daniel Coelho (PSDB), um dos poucos na Assembleia a exercer a oposição nos últimos anos.