Financiadores precissionam políticos para evitar CPIs no Congresso
Da Folha de S. Paulo
Empreiteiras e outros grandes doadores de campanhas eleitorais estão pressionando deputados e senadores governistas e da oposição a desistir da criação de CPIs no congresso para investigar os negócios da Petrobras e o cartel acusado de fraudar licitações de trens em São Paulo.
De acordo com seis parlamentares que transitam no meio empresarial e um assessor presidencial ouvidos pela Folha, os interlocutores das empresas afirmam que uma CPI pode reduzir o “ânimo” dos empresários para financiar candidaturas na campanha eleitoral deste ano.
Os primeiros contatos começaram há duas semanas, depois que a oposição conseguiu as assinaturas para criação de uma CPI para investigar a Petrobras no Senado. Doadores foram estimulados pelo próprio governo a entrar em campo para convencer senadores a retirar suas assinaturas do primeiro pedido de criação da CPI, apresentado pelo PSDB. A tentativa se revelou frustada.
Houve conversas com parlamentares governistas e da oposição. Um deles, que pediu para não ser identificado, relatou que os interlocutores das empresas pediram “bom senso” aos cogressistas, lembrando que sempre há o risco de uma CPI sair de controle.
“O mundo trocou BBM com o doleiro Alberto Youssef”, contou um parlamentar governista, citando o sistema de troca de mensagens do celular do doleiro acusado de participar de um esquema de lavagem de dinheiro desbaratado pela Polícia Federal.
Segundo a PF, Youssef tinha relacionamento estreito com o ex-diretor da Petrobras Paulo Roberto Costa, que está preso em Curitiba e guardava planilhas detalhadas com registros do que fazia. Por essa razão, as empresas temem o que pode acontecer se ele contar o que sabe ou se suas planilhas vierem à tona durante uma CPI, “Ele é muito organizado. É batom na cueca”, diz um congressista.
Esse congressista sustenta também que uma investigação contra as principais doadoras de campanha num ano eleitoral comprometerá o financiamento dos candidatos.
Temor
Depois do mensalão, o setor privado passou a temer ainda mais as CPIs. Nos casos da Petrobras e do cartel dos trens paulistas, lembram congressistas, as investigações poderiam atingir clientes da estatal e empresas que participaram da construção de metrôs em outros estados.
Representantes das empresas também entraram em contato com assessores presidenciais para pedir ao Planalto que desista de partir para a guerra contra as CPIs. Em reunião recente com a sua equipe para avaliar o clima no Congresso, a presidente Dilma Rousseff afirmou ser contra a criação de comissãoes parlamentares de inquérito, mas disse que, se a oposição vai criar a dela, o governo não pode ficar na defensiva.
Os empresários foram informados, porém, de que o governo está jogando mais para criar um clima de “confusão” no congresso e, com isso, impedir que qualquer CPI, mesmo que seja criada, venha a funcionar de fato. O governo terá apoio da cúpula peemedebista na operação.
Hoje, há quatro pedidos de criaçãode CPIs. Duas, da oposição, pedem para investigar negócios da Petrobras, com a compra da refinaria de Passadena, no Texas (EUA). Outras duas, do governo, incluindo na lista dos itens a serem investigados o cartel do metrô de São Paulo e o Porto de Suape (PE), numa tática para atingir os pré-candidatos da oposição à Presidência, Aécio Neves (PSDB-MG) e Eduardo Campos (PSB-PE).