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Um viva pra Flávio e Maciel, os maiores da Festa de Janeiro

Publicado em Notícias por em 17 de janeiro de 2020

Iguaracy vive sua tradicional Festa de Janeiro, em meio à programação religiosa em honra a São Sebastião. A Secretaria de Cultura montou a programação com um mix de atrações da moda, como Eric Land e Vitor Fernandez, o Rei do Piseiro. A ponto de, visando a exposição midiática entre os jovens, destacar essas atrações.  A chamada oficial, por exemplo, não tinha um trecho de música sequer de Flávio Leandro ou mesmo do filho ilustre, Maciel Melo. Veja a chamada aqui.

E aqui não há crítica, mas a constatação de que houve uma escolha na hora de chamar pra festa. Mas pra mim não tem jeito. As atrações que me convidam, assim como de uma parcela que pensa a região como eu, são mesmo Flávio e Maciel.

O primeiro fez um show encantador. De todas as falas do prefeito Zeinha ao comentar a festa até agora, ele fez questão de enobrecer o talento de Flávio Leandro, referindo-se a ele como responsável por um dos melhores shows de forró autêntico da atualidade. E é mesmo. Um poeta contemporâneo comparado a poucos, hoje em um pedestal da nova safra de grandes talentos.  Jorge de Altinho, por exemplo, o trata como realidade, pois não promete, entrega o melhor de nossas raízes e cultura.

E Maciel Melo, que estará neste domingo, é sem dúvidas o embaixador cultural do município.  De tanto falar em Iguaracy país afora e retratar suas imagens em canções, ganhou na entrada da cidade uma placa identificando o município como “Terra de Maciel Melo”, iniciativa do então prefeito Sílvio Alves, talvez uma das poucas marcas que tenha deixado, apesar das boas intenções,  do bom caráter e da fixação pelas propriedades da Algaroba, que acabaram por lhe tomar algum tempo de gestão.

Maciel é autor do “Hino Popular”, e não oficial de Iguaracy, Um Veio D’água. “Tudo isso retrata Iguaraci/Numa cura fiel dos meus anseios/Matuto sem estilo eu sou um veio/D’água do Rio Pajeú”.

Maciel é a representação cultural da identidade iguaraciense. Essa semana, por ocasião do quadro “Memória”, que produzo para o programa Palco Pajeú, me deparei com uma entrevista de agosto de 1997 para a Rádio Pajeú feita com o autor de Cablôco Sonhador.  Eu com 23 e Maciel com 35 anos, se preparando para lançar o CD Retinas. “Um dia se eu mergulhasse e num mergulho penetrasse através dessas retinas”. Maciel estava começando a se aventurar como intérprete.  Já gravava participações ao lado de Dominguinhos, que além dele, “só chamou” Chico Buarque, Fagner, Alceu Valença…

Justamente por conta de sua identidade com Iguaracy, com a Rádio Pajeú, que ajudou à sua formação cultural tocando de Luiz Gonzaga a Trio Nordestino, e à região, me identifiquei com sua obra e talento.

Em tempo: o Palco Pajeú com a entrevista de 1997 com Maciel Melo é uma das atrações do programa Palco Pajeú, às 4 da tarde, com Alexandre Morais e Ney Gomes.

Quando me perguntam o que acho de Maciel, respondo: alguém que, escorado numa parede, olha pra uma chinela de couro no fim da vida, se acabando  num canto e escreve:

O solado dessa chinela
Já pisou muita calçada
Fez caminho, fez estrada
Por esse mundão de Deus
Procurando os passos teus
Abriu mais de mil cancelas
Abriu portas e janelas
Seguindo os carinhos seus
Morro de amor por ela
E por isso, graças a Deus

Já andou por tantas feiras
Calçou o sol mais ardente
Fez rastro na terra quente
Fez calo em meu caminhar
Pernambuco, Ceará
Maranhão, S.Paulo e Rio
Andou no meu desafio
E ficou pra lá e pra cá

Viu tanta gente descalça
Tanto sorriso sem dente
E a dor que dói nessa gente
É nunca poder sonhar
Volto pro meu lugar
Que lá é meu mundo inteiro
Debaixo de um juazeiro
Onde eu aprendi amar

…ou é gênio ou divino. Assim, são Flávio e Maciel, com respeito ao resto, e não o contrário, as atrações principais da minha Festa de Janeiro. Um viva pra eles!

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