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Opinião: Negócios da indústria nuclear

Publicado em Notícias por em 7 de outubro de 2019

Heitor Scalambrini, da Articulação Antinuclear. “Todo o Sertão deve se preocupar”.

Por Heitor Scalambrini*

O atual governo brasileiro de extrema direita considera construir seis usinas nucleares até 2050, além de concluir a usina de Angra 3. Uma pergunta recorrente é: a quem interessa? Do ponto de visto elétrico a  nucleoeletricidade pouco contribui e pouco contribuirá para a matriz elétrica.

Para responder a esta pergunta que não quer calar, a resposta é simples: SIGA O DINHEIRO.

Uma usina nuclear como prevista, tem uma potência instalada de 1.100 MW, e custa a bagatela de US$ 5 bilhões, algo em torno de 20 bilhões de reais. Este valor comumente,  será recheado de aditivos, podendo aumentar até 30% o valor inicial. Imaginem então leitores, 6 usinas, 120 bilhões de reais (150 bilhões com aditivos) e mais 12 bilhões para terminar Angra 3. Então, estes números já dão uma boa dica a quem interessa estas construções.

Obviamente as empresas multinacionais especializadas, como a Areva (francesa), a Rosatom (russa), a Westinghouse (norte americana), Gezhouba (chinesa),  destacadas empresas multinacionais incentivadoras e propagandeadoras do nuclear em todo mundo, interessadas pelo negócio, por razões óbvias.

Não podemos esquecer os militares brasileiros, majoritários nas forças armadas,  e cujo sonho é possui/fabricar a bomba atômica, e outros artefatos bélicos. Também alguns cientistas que se locupletam com recursos financeiros para suas pesquisas periféricas. Além da classe política, que se servem destes grandes empreendimentos para venderem ilusões aos seus eleitores com o “mofado” discurso do desenvolvimento, da geração de emprego e renda, e mais blá, blá, blá. Sem contar que alguns (muitos) recebem dinheiro “por fora” por estas obras.

Mas e a população? O que pensa destas propostas escalafobéticas resultantes de uma politica energética sem transparência, incompetente, irresponsável, que celebra o entreguismo do patrimônio público, por exemplo, com a proposta da privatização da Eletrobras, e das reservas de petróleo com leilões do pré-sal, favorecendo as empresas estrangeiras em detrimento da Petrobras.

Os “especialistas” governamentais e não governamentais, os “lobbies” como o da Associação Brasileira para o Desenvolvimento de Atividades Nucleares (ABDAN), amparados pela mídia corporativa, e pseudo jornalistas, ajudam a propagar as “boas novas”, as benesses que a energia nuclear  trará a nação. Só que as tais vantagens (sabemos bem quais) não refletirão na melhoria da vida das pessoas. Ao contrário, o custo da energia elétrica ao consumidor final aumentará, os riscos de acidentes severos com a liberação de materiais radioativos para a atmosfera crescerá proporcionalmente ao número de usinas construídas, além de deixar para as gerações futuras os rejeitos destes reatores, o conhecido lixo atômico.

É muita má fé não reconhecer que o Brasil tem um conjunto muito grande de opções energéticas renováveis adequadas as exigências atuais. Como também não reconhecer os efeitos sistêmicos entre as fontes hidráulicas, as eólicas, a solar, e as termoelétricas a biomassa, como melhores opções para a diversidade e complementaridade de nossa matriz elétrica.

Resistir contra a implantação de usinas nucleares é defender a vida no planeta Terra.

Não ao nuclear, não aos meros interesses econômicos. Sim para a vida, e para o futuro do planeta Terra.

*Heitor Scalambrini é Professor aposentado Universidade Federal de Pernambuco, graduado em Física, Unicamp/SP, mestrado em Ciências e Tecnologia Nuclear DEN/UFPE e doutorado em Energética-CEA/Université de Marseilhe-França.

Comentário(s) (1)

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  1. Hudson Santos disse:

    Olá a todos, sou Hudson Santos.

    Concordo com alguns pontos com o professor e discordo por outros.

    Ponto 1: Dinheiro

    Realmente, a opção da Energia de Fissão Nuclear é cara.

    Mas segundo dados da Eletronuclear, os números apresentados pelo professor, estão acima do previsto por eles.

    A Eletronuclear fala em investimentos de R$ 10 Bilhões ao longo de 8 anos por cada reator AP1000 da Westinghouse americana gerando 1100 Megawatts produzindo R$ 1,2 Bilhão por ano (60 anos de operação).

    Tirando os custos do Combustível Nuclear (Pastilhas cerâmicas de Dióxido de Urânio Enriquecido a 3,6% em hastes metálicas de Zircônio-Niobio), Operação e Manutenção, Juros e Impostos, isso dará R$ 683 Milhões por reator, por ano (60 anos), amortizados em 16 anos com descontos de 6% ao ano.

    Assim, os 6 reatores iram ter capacidade de 6600 Megawatts elétricos, o fator de capacidade de 85% a 90% ou 50,58 Milhões de Megawatts hora por ano (por 60 anos).

    Para efeito de comparação, A Hidrelétrica de Belo Monte, de 11.233 Megawatts de capacidade, funciona a toda essa capacidade por aproximadamente 40% do tempo em um ano, isso dá uma média de 4500 Megawatts elétricos, ou 40,04 Milhões de Megawatts hora por ano. O preço de Belo Monte é estimado em R$ 26 Bilhões, com este valor podendo aumentar considerando os 516 Quilômetros quadrados de área alagada por seu reservatório, onde milhares de pessoas viviam e tiveram de ser retiradas de suas terras. Sem falar nos danos causados a fauna e flora, que são incalculáveis.

    Sendo 6 reatores, a Central Nuclear do Nordeste ocuparia 8 Quilômetros quadrados ou 64 vezes menor que a área necessária de Belo Monte, gerando bem mais.

    Ponto 2: Dilema – Novas “Belos Montes” na Amazônia ou Novas Centrais Nucleares?

    A fonte hidrelétrica é a principal de nossa matriz, mas ela tem seus problemas. Sofre com as mudanças climáticas, com secas mais severas, reservatórios ficam bem abaixo da capacidade para gerar na potência máxima das usinas, causando diminuição na oferta de eletricidade e riscos de apagões.

    Para evitar isso, as termelétricas são acesas… Biomassa e Gás Natural suprem a demanda mas ao custo de jogar milhões de toneladas hora de gases que aceleram o efeito estufa na atmosfera.

    As opções renováveis, como a Solar e Eólica ainda não são capazes de suprir essa demanda, por não terem superado seus próprios problemas como ventos fracos ou ausência deste na Eólica e gerar durante a noite ou em dias nublados na Solar.

    A opção nuclear é uma opção viável, pois gera eletricidade sem estar a mercê das mudanças climáticas como as renováveis hidráulica, eólica e solar e não queima combustíveis como a Biomassa ou Gás Natural, portanto, não geram gases ampliadores do efeito estufa.

    Mas claro, ela tem seus problemas. O Lixo Atômico na verdade é combustível nuclear irradiado, precisa esfriar por 6 anos em uma piscina de água em um prédio do lado do reator e depois pode ir para um container de concreto e chumbo de 100 toneladas e ficar eternamente lá, ou ser processado, as hastes metálica são recicladas e as pastilhas cerâmicas são derretidas e transformadas em novas para ser combustível para o mesmo reator ou outro. Mas isso é caro, então até que tenhamos a tecnologia pra isso, a primeira opção é mais viável.

    Quanto as bombas… Bom, o Urânio Enriquecido precisa ser de 90% ou mais de pureza, ou seja, a cada 100 átomos de Urânio, 90 ou mais precisam ser de Urânio-235. O Urânio Natural ou “pobre” é o Urânio-238, que no combustível para reatores é 97 de cada 100 átomos de Urânio nas pastilhas, não servindo para uma bomba.

    E sinceramente, não acho que os militares irão fazer uma bomba. O Brasil só enfrentaria sanções de todos os tipos e a Argentina iria querer ter a sua também… Trazendo instabilidade a uma região relativamente sem
    grandes conflitos bélicos entre nações a mais de 200 anos.

    Quanto aos medos de Chernobyl e Fukushima eu digo, não há o que temer, mas, previnir. Previnir que o medo faça com que as pessoas não enxerguem as oportunidades que esse emprendinento trará a região.

    O reator AP1000 da Westinghouse acumula a experiência dos quase 400 Reatores de Água Pressurizada (PWR sigla em inglês) no mundo. Bem diferente do Reator Moderado a Grafite de Água Fervente (LWGR sigla em inglês) cujo modelo principal era o RBMK que só foi operado na União Soviética, portanto, temer algo como Chernobyl é um problema que os russos tem de lhe dar, não nós.

    Quanto a Fukushima, o que aconteceu foi o maremoto que não chegou a afetar a usina, mas o tsunami que se seguiu sim, embora a barreira de 5 metros contra tsunamis existisse, eles não esperavam que um paredão de água de 14 metros de altura pudesse vir a surgir… Mas surgiu. 9 metro do paredão de água passaram e arrasaram tudo. O que veio depois foi a explosão de hidrogênio acumulado no reator superaquecido, onde a Água Pressurizada se desfaz em Hidrogênio e Oxigênio por Radiólise, a Hidrólise por radiação gama. Isso aconteceu em 3 dos 4 reatores atingidos.

    Bom, se a Central Nuclear do Nordeste for mesmo construída em Belém do São Francisco, dificilmente sofrerá com um maremoto, terremoto ou tsunami. Irá operarar maravilhosamente bem, e sem problemas, ao menos é para isso que Westinghouse trabalhou para conseguir neste reator, segurança e simplicidade para construir e manter.

    Ponto 3: Corrupção e Entreguistas

    Concordo plenamente com o professor nesse ponto.

    Infelizmente… Nosso país é campeão quando o assunto é corrupção. Prevejo desvios e atrasos se as coisas não forem bem feitas. Mas o Ministério Público Federal tem que cair em cima para evitar isso. Quanto aos entreguistas, realmente, o governo ao meu ver tem se rendido demais aos interesses estrangeiros.

    Mas, acredito que é melhor construir Usinas Nucleares, mesmo com todos os medos e receios, pois, se outros países estão apostando suas fichas na Energia Nuclear, pq não podemos fazê-lo! É melhor do que queimar carvão, gás natural e biomassa!

    Pois querendo ou não, a Energia Nuclear é a única das opções que não emitem gases do efeito estufa durante a operação. Já o Carvão, Gás Natural e até Biomassa poluem… E matam! Mata mais gente por ano do que morreu em Chernobyl, são 44 mil mortes só no Brasil por doenças associadas a poluição do ar.

    https://exame.abril.com.br/negocios/dino/pesquisa-realizada-pelo-ministerio-da-saude-aponta-as-5-doencas-que-mais-matam-no-brasil/

    Ponto 4: Muito Importante: E a População?

    Acho que o que mais afeta a Energia Nuclear é medo e receios que se tem dela. Normal, pois sempre ficamos com um pé atrás com aquilo que não é familiar, ou nunca vimos ou sequer sabemos como é! Eu tive esse medo, já tive esse receio. Mas então fui procurar as respostas. Não é esse demônio que as pessoas acham que é.

    É uma indústria como qualquer outra, e tem suas particularidades. Temos medo da radiação, mas ela está em todo lugar. Recebemos mais radiação de comer bananas e dormir com a companheira ou companheiro do que se morassemos do lado do predio de um reator nuclear.

    https://www.megacurioso.com.br/radiacao/96886-20-curiosidades-aleatorias-e-bizarras-sobre-a-radiacao.html

    Um pessoa poderia ter energia para vida toda se ela viesse do Urânio em uma quantidade que cabe numa lata de refri.

    http://talknuclear.ca/2019/06/your-lifetime-waste-would-fit-in-a-soda-can-want-proof/

    Enfim, essas e outras coisas eu procurei saber como aconteceu os desastres de Chernobyl e Fukushima, como funciona um reator nuclear, entre outras coisas que sinceramente… Nem meus professores sabiam responder. Mas as respostas, estão por aí, só procurar.

    O que sei comparado a um professor de física é muito pouco. Mas não importa o que eu acho, importa o que eu sei, e eu sei o bastante para chegar a conclusão que acho que os benefícios de uma Usina Nuclear no Nordeste ser vantajoso, não só para as pessoas, mas para o país inteiro. Se com duas Usinas temos 2,4% da produção de Energia inteira do país, imagine com mais 6 usinas, ou 12, ou 24… Acho que é um bom investimento, principalmente para preservar a Amazônia e o que restou dela.

    Espero que as pessoas procurem saber antes, e tomar uma decisão baseada no que sabem, ao invés do medo e receios por não saberem.

    Enfim, essa é minha opinião.

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